Inflação dos alimentos impacta orçamento de milhões de brasileiros
ECONOMIA
Café, carnes, leite e frutas lideram ranking de produtos com preços elevados
O aumento dos preços dos alimentos, há meses, se tornou um dos fatores de grande preocupação no orçamento das famílias brasileiras, impactando, especialmente, a população de baixa renda. Em comparação à inflação geral de 4,8%, o valor da cesta básica aumentou 14,2% no ano. De acordo com a última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), a alimentação é o maior item individual no consumo das famílias, o equivalente a 13,1% dos gastos totais.
Os principais responsáveis pela inflação dos produtos alimentícios foram a elevação dos preços das commodities no mercado internacional, a alta da taxa do dólar e o crescimento do volume exportado. O aumento das exportações promoveu a redução da oferta no mercado interno, ocasionando a escalada dos preços.
Nos últimos cinco anos (com o início da pandemia de Covid-19), os preços dos alimentos registram alta superior a 55%. A taxa ultrapassa o avanço da inflação somada no mesmo período, de 33,4%, conforme divulgação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Entre os alimentos com preços mais elevados, os principais são o café moído (+39,60%), as carnes (+20,84%), o leite longa vida (+18,83%) e as frutas (+12,12%).

Edson Kawabata, sócio diretor de novos negócios da Peers Consulting + Technology, consultoria especializada em negócios e tecnologia, chama a atenção para as causas da inflação do café. O produto passa por uma elevação geral de preço no mercado mundial. Para se ter ideia, dados da Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC) revelam que o café arábica teve aumento de 80% em 2024, chegando a US$ 3,44/libra. “E esta elevação do preço global é derivada principalmente do aumento de demanda (que dobrou na China na última década), combinado com a valorização do dólar, que teve apreciação de 27,34% frente ao real no ano”, aponta.
Em relação à carne, o produto teve a maior variação em cinco anos, estimulada pela inflação da carne bovina. “Por exemplo, a arroba do boi gordo na B3 teve alta de 27,3% em 2024, chegando a valer R$ 317,11 no final de dezembro. E as exportações de carne bovina bateram recordes em volume e valor no ano, reduzindo a oferta no mercado doméstico”, afirma Kawabata.
Players do mercado
As empresas do agronegócio estão sendo impactadas, positiva ou negativamente, com essa realidade. A JBS, por exemplo, tem se beneficiado com a alta do dólar e dos preços das commodities. A empresa encerrou 2024 com receita de R$ 416,9 bilhões, crescimento anual de 14,6% em comparação a 2023, segundo balanço publicado no último dia 25 de março, após o fechamento do mercado.
Outro caso é o da Marfrig, que obteve crescimento anual de receita líquida de 14%, chegando a R$ 144,2 bilhões. O crescimento de EBITDA (indicador financeiro que mede a geração de caixa de uma empresa antes de considerar juros, impostos, depreciação e amortização) foi de 59,5% no ano, correspondente a R$ 13,6 bilhões.
Em contrapartida, Kawabata pontua que empresas multinacionais ligadas à agricultura, como ADM, Bunge e Cargill, divulgaram quedas em receita e lucratividade em suas operações globais em 2024 (cabe ressaltar que tais números não têm abertura divulgada para o Brasil). “Fabricantes de máquinas e equipamentos como John Deere e AGCO também reportam piora nos resultados globais, refletindo um momento de dificuldade no setor”, complementa.
Com esse cenário, conforme divulgação do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), as exportações do agronegócio brasileiro atingiram US$ 164,4 bilhões, recuo de 1,3% em relação a 2023. Assim, destacam-se os setores de carnes (+11,4%), complexo sucroalcooleiro (+13,3%), produtos florestais (+21,2%) e café (+52,6%). Já as exportações do complexo soja e de cereais registraram queda.
O setor de carnes, por sua vez, alcançou recorde em exportações de carne bovina em 2024, atingindo 2,89 milhões de toneladas em volume, aumento superior a 26% ante 2023, e US$ 12,8 bilhões em valor, avanço de 22%, frente ao ano anterior.
Kawabata explica que as empresas que enfrentam quedas mais severas de receitas e lucros devem priorizar a eficiência de custos e contenção de investimentos. Isso irá contribuir para a proteção do caixa a curto prazo e para a redução de perdas até o retorno do ciclo de crescimento, dado o caráter cíclico do setor.
“Para os próximos meses, há perspectiva de alívio inflacionário nos alimentos, considerando a projeção de queda do preço das commodities agrícolas globalmente, combinada com a perspectiva de uma supersafra de grãos e estabilidade do dólar no Brasil”, finaliza Kawabata.
Foto capa: Divulgação